Profissionais auxiliam a reavaliar o caminho de gestão das empresas e refazer projeções financeiras
Roberta Mello
“Na crise, o contador é o médico do seu negócio.” A frase é o slogan de uma campanha de valorização do serviço prestado pelo profissional contábil no momento em que muitos empreendedores têm de reavaliar o caminho de gestão das empresas e refazer projeções financeiras em função dos reflexos da pandemia do novo coronavírus. A ação é do Sindicato das Empresas Contábeis do Rio Grande do Sul (Sescon/RS) e resume um sentimento dos profissionais: é preciso focar em como sanar as atividades econômicas.
Na área da saúde, quando uma pandemia de projeção mundial como a que estamos encarando atinge em cheio uma localidade, é preciso voltar todos os esforços ao tratamento e à proteção das pessoas, principalmente as mais vulneráveis. No caso dos negócios, a diretriz não deve ser diferente. É preciso eleger o que é mais urgente e focar na resolução de problemas que podem se tornar vitais às companhias.
A ideia da campanha surgiu justamente como forma de reconhecer a importância dos profissionais contábeis para saúde financeira das empresas. “Queremos demonstrar o tanto de responsabilidade que os contadores carregam em seus ombros, e que deve aumentar em breve, em especial quando for retomado o ritmo dos negócios”, destaca o presidente do Sescon/RS, Célio Levandovski.
O papel de facilitador para o empresário, diz o dirigente, também ganha mais peso e importância e exige dedicação extra dos contadores. “Neste momento de crise, o contador é imprescindível pois, a cada dia, há uma enxurrada de novas normas, medidas provisórias, portarias e leis que muitas vezes são até conflitantes, e será preciso tomar mais decisões” argumenta Levandovski, que também é empresário contábil.
O dirigente se refere ao grande volume de recentes decisões dos governos federal, estaduais e municipais para postergar a entrega de dados, suspender algumas multas por atraso e o pagamento de tributos. Há ainda medidas econômicas com injeção direta de recursos na economia, como a subvenção ao pagamento da folha de funcionários por dois meses. As novidades, muitas delas ainda em fase de discussão ou regulamentação, passam principalmente pelas áreas tributária, fiscal e trabalhista e exigem posicionamento dos profissionais contábeis.
A presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRCRS), Ana Tércia Lopes Rodrigues, lembra que a suspensão ou prorrogação nos prazos de entregas de obrigações, a exemplo do que ocorreu com a declaração do Imposto de Renda Pessoa Física, são demandas apresentadas por entidades representativas da classe principalmente para garantir que empresários, contadores e advogados se dediquem à gestão dos negócios. “É preciso tempo para estudar as medidas anunciadas, avaliar se são plausíveis para cada realidade, consultar colegas, avaliar o grau de insegurança jurídica e treinar a equipe”, enumera Ana.
Enquanto as mudanças são vistas como extremamente necessárias, a categoria ganha mais responsabilidade. Ana admite que há uma pressão enorme sobre os profissionais, “mas, ao mesmo tempo, que nunca foi tão clara a sua importância em apresentar alternativas para enfrentar a crise”.
Contadores estão na linha de frente para recuperação dos negócios
Um termo bastante usado entre profissionais de diversas áreas e repetido exaustivamente desde o ano passado vem à tona: disrupção. A palavra, até alguns anos atrás pouco usada, entrou no vocabulário de todos e virou questão de sobrevivência para os empreendimentos. Em 2018 e 2019 foi motor de discussões, tema de eventos e levou muita gente a implementar novos processos.
Disrupção significa, de acordo com o dicionário Michaelis, “quebra de um curso normal de um processo”. Na prática, ela é o primeiro passo para parar, refletir e, quem sabe, adotar um rumo diferente, mais tecnológico e inovador.
“Mas ninguém imaginava que teríamos de colocar isso em prática tão rápido”, reflete o presidente do Sescon/RS, Célio Levandovski. Ele salienta que além de atender ao cliente, o empresário contábil também tem que fazer a gestão do seu negócio, adaptar a estrutura para o home office, fazer a gestão do caixa e manter a equipe coesa, mesmo à distância.
“Como se não bastasse tudo isso, também temos de dar conta da nossa saúde e da nossa família”, complementa a presidente do CRCRS, Ana Tércia. Por isso, é o momento de sair da zona de conforto, experimentar diferentes formatos e modelos de realização das atividades com auxílio das novas tecnologias, indica Ana.
Hoje, grande parte dos contadores e escritórios gaúchos já adaptou o serviço prestado à nova dinâmica social. A maioria está em esquema de teletrabalho – o home office. Segundo informações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Rio Grande do Sul tem 37,7 mil contadores e 4,4 mil organizações contábeis. O Estado é quinto em número de organizações no Brasil – atrás de São Paulo (21 mil), Minas Gerais (7,5 mil), Rio de Janeiro (5,4 mil) e Paraná (5,3 mil).
Porém, nem todos os escritórios tiveram de fechar as portas. Existem casos em que o escritório e a residência são juntos e o proprietário acaba trabalhando no mesmo lugar de antes, mas com as portas fechadas ao público, exemplifica Levandovski.
Também há municípios gaúchos em que o trabalho do contador é considerado serviço essencial. Segundo levantamento do Sescon/RS, Erechim, Panambi, São Lourenço, Bento Gonçalves, Encantado e Jaguarão são algumas das cidades do interior do Estado que incluíram em seus decretos com medidas de enfrentamento à pandemia os contadores entre aquelas categorias que podem continuar prestando serviços.
Em todos os casos, porém, é essencial seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de manter os locais limpos e arejados, evitar aglomerações, lavar sempre as mãos e evitar contato físico. Outra recomendação, esta feita por Levandovski, é ser solidário, prestar ajuda aos colegas, compartilhar ideias que estão dando certo e trabalhar em conjunto.
Fonte: Jornal do Comércio
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